sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

sábado, 6 de janeiro de 2018

AUTO ANÁLISE

AUTO ANÁLISE

1. MEU NOME


Sabe Mabel, vou começar pelo nosso nome. Quando a gente nasce o primeiro carma que nos colocam no ombro é o nome. Uns tem nomes de artistas, outros dos pais, outros ainda nomes inventados. Há aqueles que como minha tia teve o nome da irmã que havia recém morrido quando ela nasceu. Sempre ficava horrorizada quando falavam da morta -"...quando a Violetinha morreu..."- e eu me lembrava que a tia Leta carregava seu nome. Carregava mesmo, porque nome a gente carrega.
Mabel e Ana
Voltando ao meu (nosso) nome Mabel. Esse nome veio da minha avó paterna que morreu muito tempo antes de eu nascer e deixou o nome que colocaram no meu ombro. Esse nome era pesado demais pra mim quando eu era criança. sofri muito bouling com ele. Rimava com papel e por isso até quebrei a cabeça de um rapaz por me chamar assim. fico grata a minha amada avó materna Maria por ter me defendido do pai dele quando veio reclamar. Maria é um nome simples e assim era essa minha avó feita de açúcar, história em quadrinhos e amor.
Bom, de novo ao Mabel. O outro problema era a origem. Como minha avó Mabel era inglesa a chamavam de "Meibel" e assim era comigo em casa. Quando minha mãe atendia o telefone e perguntavam -"a Mabel está?" - ela respondia, -"aqui não mora nenhuma Mabel". Me era imposto brigar com todo mundo para que me chamassem de "Meibel". E assim o nome ficava mais pesado ainda porque ou as pessoas me chamavam de Mabel pra me irritar ou riam ou ainda diziam que eu era brasileira então não podia exigir que falassem inglês. Quanto peso...
Carreguei isso até os 21 anos, quando completei a maioridade absoluta e mudei de lugar, de cultura, de idioma. Descobri que em russo meu nome soava masculino, não por causa do “a” ou do “ei”, e sim porque terminava em consoante dura o “l”. Então acrescentaram ao final do meu nome o chamado “sinal brando”, que na verdade soava como um “i” fraquinho. Ficou então Mabeli. Como meus colegas nativos estudavam como segunda língua o francês, me chamavam de Ma Belle, o que tornava meu nome muito mais leve.
Quando voltei ao Brasil não quis mais acrescentar peso ao nome então abri espaço para o Mabel. Minha família continua me chamando de Meibel mas para os de fora já me apresento com o nome abrasileirado mesmo. Alguns amigos me chamam de Bel e eu gosto porque é carinhoso.
Por causa de uma maldita (rs) marca de biscoito alguns alunos me chamavam de professora biscoitinho, na minha cara. Não me incomodou porque era carinhoso também.
Enfim faço tudo para tornar esse nome menos pesado. Entre meus alunos tem uns com nomes mais pesados que o meu e entendo como é difícil para eles.
Devíamos, como em algumas tribos indígenas, escolher o nome depois de adultos. Não que isso modificaria o peso do nome, entretanto o carregaríamos com maior prazer, pois foi nossa a escolha.

Quando minha filha nasceu pensei em dar a ela um nome bem universal - pois o pai dela não é brasileiro – que ficasse fácil de falar em todos os idiomas. Queria também homenagear o país que me acolheu com tanto carinho e onde ela nasceu. Escolhi um nome comum na Rússia: Tatiana. Quando o pai dela voltou do cartório com cara de “cachorro ladrão” e disse que ele tinha colocado outro nome quase caí dura. Mas amei o nome que ele escolheu. Ana, simplesmente Ana, que na primeira certidão russa era com dois enes e para ficar mais simples, pedi para homologar no Brasil com um ene apenas. Mais simples e internacional que isso impossível. Não sei se pesa pra ela, mas procurei que não.

terça-feira, 2 de abril de 2013

VERBO IR NO HORTIFRUTI


Verbo ir ao Hortifruti

Quando necessito de legumes frutas e verduras, o que acontece com muita freqüência, pois adoro comer alimentos vegetais em detrimento dos animais. Não que eu seja vegetariana por ideologia, mas como pouca carne. Bom, continuando, quando preciso quase sempre vou a um chamado Hortifruti aqui, mas ou menos, próximo da minha casa. Gosto de ir lá por vários motivos: o primeiro deles é que as mercadorias são de boa qualidade, o segundo é que eu escolho, pago e entregam em casa. Não de graça, claro, mas por uma módica quantia a mais que compensa.

Entretanto ir lá é mais do que uma tarefa semanal para suprir as necessidades domésticas. Eu aproveito para exercitar os músculos. Por não estar localizado, este comércio, tão longe que precise de condução e nem tão perto que não precise de esforço, aproveito pra fazer uma boa caminhada de ida e volta. O melhor não é o exercício físico, que é bom também, mas liberar o cérebro. No caminhar dou total liberdade à minha massa cinzenta - será mesmo dessa cor? – Sei que é perigoso, pois o desligamento do mundo real pode me levar a cair num buraco e até mesmo ser atropelada ou assaltada, mas não resisto e ele sai por aí voando pensando coisas desconexas (será?) que pululam de um assunto a outro muito rapidamente. Derrepente, do nada, algo chama a atenção para o real e ele volta. Volta trazendo os últimos e inacabados pensamentos. Nesse momento tento colocar uma lógica nas coisas pensadas, às vezes consigo outras não.

Hoje foi assim, da ida nem me lembro tão desligada estava. Quando me dei conta estava perguntando se o rapaz que entrega estava trabalhando. Pergunto sempre antes de começar a escolher, pois eu não posso carregar tanto peso. Deu-me até uma angustia quando pensei como atravessei ruas até chegar e nem lembrar. É claro que o cérebro tem uns neurônios que ficam de prontidão para retorná-lo em caso de emergência, mas ficar fora do comando, deixando no piloto automático, é muito bom mais causa certa apreensão.

Acho que isso fez com que na volta ele não voasse tão longe e me percebi pensando no verbo ir. Esse é um verbo bem interessante, pois apesar de se chamar “ir”, no passado eu digo fui e no futuro vou, nenhuma parecença. E, pior, ele não tem presente próprio tem que ser ajudado pelo auxiliar. Maria vem aqui! Estou indo mãe! (me desculpem os gramáticos). Então parei, na porta da farmácia, como se fosse comprar algo e tentei buscar as pontes lógicas que levaram a esse pensamento.

Já ia longe, mas ainda audível, um carro de som fazendo propaganda de uma loja especializada em skate. Dizia, além do nome, endereço e telefone, que tinham todo tipo de peças para reposição nacionais e gringas. Isso me levou a tirar da cachola a origem desse nome, ou pelo menos a história da origem. Na Segunda Grande Guerra os Americanos dos EUA, pois nós também o somos, fixaram uma base militar no Nordeste brasileiro. Trouxeram seus combatentes vestidos de farda verde. Muitas pessoas descontentes com essa invasão, consentida pelos governantes brasileiros, gritavam palavras de ordem em inglês, pedindo que se fossem. Uma delas era green go que significa, numa tradução liberal, “verdes fora!”. As pessoas que não sabiam inglês, que era a maioria, achavam que esta era uma só palavra “gringo” e acabou, pelas vias tortuosas da língua, passando a significar estrangeiro. Esse go me remeteu ao verbo ir, em português, e daí para o resto foi só ligar os pontos.

Cheguei em casa!! Ufa!

domingo, 15 de maio de 2011

ARQUEOLOGIA EXTRATERRESTRE


  ARQUEOLOGIA EXTRATERRESTRE


Dito tem uma banca de camelô no Largo de São Francisco. Na banca ele vende miudezas domésticas, principalmente pano de prato e outros paninhos coloridos de limpeza. O nome de verdade dele é Benedito, mas desde criança todos os chamam de Dito. Me disse um dia que até gosta porque é menorzinho.

O Largo de São Francisco, na cidade do Rio de Janeiro, é um espaço em cujo entorno encontramos a Igreja de São Francisco, a Faculdade, o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, além de muitas lojas e prédios comerciais. Durante a semana o Largo fervilha de tanta gente.

Sempre que passo ali compro uns panos de prato na banca do Dito. Já tenho muitos, compro pra distribuir para familiares e amigos e ajudar o Dito. Minto! Compro para ouvir as histórias interessantes dele.

Certo dia eu estava passando no Largo por volta das 18 horas, o Dito já estava arrumando a banca para fechar. Comprei dois paninhos e puxei um papo porque queria ouvir suas histórias e também passar um tempo para fugir do horário do rush.

Dito puxou dois caixotes que estavam embaixo da banca sentou em um e me ofereceu o outro. Levantou a cabeça, passou os olhos pelos prédios e depois para o céu que já estava de uma cor azul escuro. Olhou pra mim e disse:

Vou te contar uma história que nunca contei pra ninguém porque acho que vão dizer que sou mentiroso ou mesmo louco. Mas juro que foi verdade!

Vou tentar escrever o mais próximo possível da forma como ele me contou. Eu nunca contei pra ninguém e nem julguei o meu amigo. Fica agora a seu critério, caro leitor. 


Ele chegou numa nuvem. Dessas que passam e não choram nem uma lágrima. Apenas passam. Ou era ela? Não sei, só sei que era domingo e que não havia ninguém no Largo de São Francisco, aquele do Rio de Janeiro. Olhou o entorno, abaixou-se e observou atentamente o chão, levantou-se. Movimentando-se lentamente, parecia que flutuava na superfície, entrou na igreja. Passou lá um tempo. Depois saiu e passou a olhar para as fachadas dos prédios. Eu me encolhi com medo que me visse. Sacudiu a cabeça parecendo pensar: -“nada mau, lugar interessante”.

Tirou do que parecia um chapéu um pedaço de nuvem quadrada e outra esférica. Com um raio de luz escrevia no quadradinho, ao mesmo tempo em que falava no novelinho branco:

-Encontrei sítio arqueológico. Construções organizadas em torno de um pátio sugerindo terem sido construídas por sociedade primitiva inteligente.

A partir daí, ia falando na sua nuvenzinha redonda e escrevendo na sua nuvenzinha quadrada. Parece que o que escrevia era o mesmo que falava.

- O piso do pátio é pavimentado com pedras coloridas. Algumas faixas, sugerindo caminhos ou passarelas, são feitas com aquele elemento altamente perigoso chamado asfalto. Pelo que observo, as construções são de concreto o que permite datá-las, possivelmente, do período Terroso. Tempo esse em que a população desse planeta deve ter sido extinta.

- Do ponto de vista artístico eram bem desenvolvidos nas artes manuais de construção. Alguns prédios têm a fachada com desenhos em alto relevo. Outros, assim como parte do piso, são revestidos com pedras de vários tamanhos, formas e cores.

Pelo que parece chegaram ao mais alto estágio da idade da pedra, pois já conheciam o concreto e manipulavam habilmente algumas ferramentas simples movidas a combustível fóssil. Ainda tem algumas dessas por aqui, largadas, daquele material chamado aço, em perfeito estado de conservação.

Construíam templos para cultuar seus deuses. Esses eram grandes, adornados também com alto relevo e metais amarelos e brancos. Matavam árvores, faziam entalhes e colocavam nos templos como em sacrifícios aos seus Deuses. Alguns entalhes parecem que servem para sentar, outros são imagens estranhas com olhos tristes como se estivessem ali para espantar os maus espíritos.

O prédio que parece ser um templo está aberto, mas os outros estão fortemente fechados, como se algo muito pavoroso os tivesse levado a extinção. A impressão é que tinham medo, muito medo! Do que seria?

A sombra já está chegando e podemos ficar com a energia baixa. Sugiro que uma equipe de arqueólogos, melhor equipado, retorne para um estudo mais detalhado.

Subiu na nuvem, que ainda estava ali parada e, sem nenhuma gotinha se foi.

Ninguém viu. Só eu, pela fresta do meu quartinho ali no segundo andar da faculdade. A noite caiu e os primeiros raios do alvorecer trouxeram o burburinho da segunda-feira. Todos se movimentam. Mas eu fico ali, quieto, a esperá-los num domingo desses.

Maio de 2010

O emprego do pronome indefinido...

(Autor desconhecido)

Era uma vez quatro indivíduos que se chamavam todos, cada um, alguém e ninguém.
Existia um importante trabalho a ser feito, e pediram a todos para fazê-lo.
Todos tinham certeza de que alguém o faria.

Cada um poderia tê-lo feito, mas na realidade ninguém o fez.
Alguém se zangou, pois era trabalho de todos!

Todos pensaram que cada um poderia tê-lo feito e ninguém duvidava de que alguém o faria.

No fim das contas, todos fizeram críticas a cada um porque ninguém tinha feito o que alguém poderia ter feito.

*** Moral da história***

Sem querer recriminar a todos seria bom que cada um fizesse aquilo que deve fazer sem alimentar esperança de que alguém vá fazê-lo em seu lugar...

A experiência mostra que lá onde se espera alguém, geralmente não se encontra ninguém.

domingo, 1 de maio de 2011

BOB MARLEY

 








"Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, ainda haverá guerra"